
Ontem, dia 17 de março, assinalou-se o dia internacional da marinha... E hoje, vem-me à memória a aventura que uma menina decidiu enfrentar, por mares já antes navegados. Ela é, para mim, a marinheira mais valente e destemida, que alguma vez enfrentou as fúrias do Atlântico. Aos 20 anos, quis participar numa regata, a bordo de um veleiro com apenas 19 metros de comprimento, e 30 toneladas.
Há exatamente 8 anos, nesse veleiro de madeira - o Barconauta - estavam, essa mesma menina e outros 9 homens. A noite mostrava-se calma, mas a estação meteorológica de Monsanto debitava ainda mensagens de prudência. Com um atraso de 10 dias em relação ao resto da regata, que havia saído de Lisboa, não tinham escolha. Tinham mesmo que zarpar, e deixar as águas calmas da ria de Aveiro.
Não era nenhuma competição, mas sim a viagem comemorativa dos 500 anos da viagem de Cabral, para aquele encontro com os nativos da costa brasileira. A rota era a mesma, o motivo diferente mas, tão próximo que se confundia: em 1500 comemorava-se então o primeiro encontro entre duas culturas tão diferentes quanto distantes. Por sua vez, no ano 2000 celebrava-se a vida e a obra do bandeirante mais emblemático, de um dos maiores espaços culturais do mundo – o espaço das culturas de língua portuguesa.
E foi assim, que ao passar pelo canal que dá acesso à barra, todos os tripulantes do Barconauta, deixaram em terra, familiares e amigos, uns acenando e sentindo já aquela saudade tão portuguesa, e outros chorando de apreensão e algum medo... Será que voltam? - deve ter sido a pergunta que muitos fizeram em silêncio. Eu, abraçado aos meus pais, também não consegui segurar minha lágrimas.
Um mês mais tarde, chegaram à baía de Cabrália, no dia 19 de Abril, após escala em Cabo Verde, paragem de um dia em Fernando de Noronha, e uma fantástica recepção dos brasileiros na cidade de Salvador, no Centro Náutico da Bahia, com caipirinha, frutos tropicais e fogo de artifício.
A bordo do Barconauta, esse veleiro construído em madeira de teca, nos estaleiros Riamarine de Aveiro, viajaram uma dezena de estudantes da Escola Superior de Educação do Instituto Piaget de Viseu. Entre eles estava essa menina, Mariana, minha irmã.